Hilário Remídio das Virgens ( Ojuobá )
Hilário Remídio das Virgens ou Ojuobá, (Salvador, 13 de janeiro
de 1884 — Rio de Janeiro, ?), filho de Regino José das Virgens e Josefa
Valentina em uma senzala localizada na Freguesia de Santo Antônio, região da
antiga Salvador – Bahia.
Nasceu livre, graças a Lei do Ventre Livre, e desde sua mais
tenra idade, começou a ser preparado pelo seu avô, Unjibemin, que se
transformara em um importante Babalorixá, para dar continuidade aos fundamentos
e axés da família.
Filho de Oxalufã, mas com o eledá entregue à Ayrà, como foi
determinado pelo Ifá de seu avô e pai-de-santo.
Hilário aos 7 (sete) anos de idade sofreu uma bolação, isto é,
entrou em transe completo ocasionado pela incorporação violenta do seu Orixá
Aiyrá, tendo sido iniciado no candomblé (nação Ketu), por volta de 1891. Ele
nunca disse seu verdadeiro Orunkó, ou seja, o nome de Orixá ou como se fala na
nação Angola – “Dijína”); no entanto, recebeu o título ou Ijoyê de Ojuobá, Oyê
(título) africano dado àqueles que se tornassem altos zeladores e dignitários
do culto de Xangô.
Como a família possuía otás (pedras de assentar Orixás)
diretamente vindos da Nigéria, o seu Orixá foi assentado em um precioso otá de
Xangô (Edun Ará), trazido da África pelo seu avó e pai de santo Unjibemin.
Em 1894, morre Unjibemin deixando seu neto e filho de santo
entregue aos seus pais carnais, para que os mesmos dessem continuidade às suas
obrigações e ao aprimoramento dos conhecimentos fundamentais dos orixás, como
também do idioma Iorubá, que passou a dominar fluentemente, apesar de não saber
ler nem escrever o português.
Na Nação Angola
Fez, no ano de 1899, a obrigação de tiragem de Mão de Vumbe com
a Mametu Nkisi Maria Rufino Duarte, conhecida como Mariquinha Lembá (?-1928),
filha de Lembá e praticante da nação de Angola. Permaneceu como filho de santo
de D. Mariquinha durante 29 anos, período este em que se aprofundou nos
fundamentos do ritual de Angola sem, entretanto, desprezar os conhecimentos de
Ketu adquiridos através de seu avô, Unjibemin.
D. Mariquinha ou Mariazinha de Lembá era parente e irmã de santo
de outra grande Iyalorixá de Angola, D. Maria Nenem, de onde se originaram
famílias importantes como Ciriáco do Omolú, Terreiro Tumba Junçara e de
Bernardino de Oxalá, Terreiro Bate Folha.
Entretanto, em 1928 morre D. Mariquinha e, mais uma vez, Ojuobá
faz obrigação de tiragem de Mão de Vumbi com o importante Babalorixá Florzinho
da Encarnação, Babajibé, filho de Oxalufã, praticante da nação Ketu e patriarca
de uma das mais importantes famílias do Candomblé do Brasil – a “família
Encarnação” -, aprofundando ainda mais seus conhecimentos de raiz familiar e do
ritual Ketu.
Entre 1910 e 1930 consta que, Hilário além de funcionário da
Faculdade de Medicina da Bahia, no cargo de servente, foi companheiro da famosa
mãe de santo do Opô Afonjá, Ana Eugênia dos Santos – Obábiyi – de Xangô Ogodô,
uma das mais proeminentes Iyalorixás do Candomblé, tendo vivido com ela por um
bom tempo; consta também que participava dos rituais internos e de barracão do
Candomblé do Gantois juntamente com o Ogan africano de lá, pai Bibiano, tendo
sido com este um dos principais defensores da ascensão de Dona Menininha do
Gantois ao poder daquela casa, em 1925, com apenas 26 anos de idade, o que foi
muito contestado por outras correntes daquele Axé na ocasião.
Ida para o Rio de Janeiro
Por volta dos anos 1950, Ojuobá conhece o jornalista Mário
Barcelos em uma festa no Gantois, nascendo neste momento uma grande amizade e
admiração mútua, o que resultou na aceitação de Mário como filho de santo e
conduzindo-o à obrigação de santo, feita pelo velho Hilário Ojuobá,
prioritariamente no ritual Ketu, mas com fundamentos e direitos para a nação
Angola, a partir do que foi adquirido por Hilário com Mariquinha Lembá. Isto se
justifica porque a nação Angola era a mais divulgada e de mais prestígio na
época no Rio de Janeiro, o que levou Mário Barcelos a optar por ela ao montar
sua casa de santo no Rio de Janeiro.
Mário Barcelos era de Xangô de Ouros (em Ioruba Oworô ) tendo
recebido a dijína de Obateleuá (na verdade um nome de santo de nação Ketu e não
Angola). Consta que somente duas famílias de santo no país tinham fundamentos e
sabiam lidar com este tipo de Xangô: a família de Hilário Ojuobá que tinha o
nome de Casa Amarela; e o famoso Felipe Mulexê, que era iniciado para este
Xangô, sendo também irmão de Felisberto Sowzer (o pai de santo e Babalaô
Benzinho), ambos amigos de Ojuobá e netos de Bangboshê Obitikô, o famoso
Babalaô nigeriano que ajudou a constituir o culto Ketu na Bahia.
Em 1958, devido a problemas profissionais, Mário Barcelos
retorna à cidade do Rio de Janeiro com sua família, levando consigo seu Pai de
Santo Ojuobá.
(Matéria extraída da Revista Eletrônica Xirê - http://www.revistaxire.com.br/web/?p=2922
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