Arquivo do blog

2 de janeiro de 2024

2024 - O ANO DO JUBILEU DE DIAMANTE.


 

A Tenda Espírita “Filhos de Zambi” foi fundada pela Sra. Elzira da S. F. dos Santos e inaugurada em 23 de abril de 1964, porém a história religiosa da fundadora se inicia bem antes.

Ainda na juventude, Madrinha Elzira apresentava episódios de manifestação mediúnica e, devido à formação religiosa católica da família, o fenômeno deixava a todos bastante apreensivos. Tempos depois, houve uma trégua nessas manifestações, fazendo com que Madrinha Elzira acreditasse que tudo havia passado.

Estamos no início da década de 50. Madrinha Elzira já formada em Corte e Costura, trabalhando como modista (estilista), estava realizando a confecção de um vestido de noiva no domicílio de uma cliente, quando foi tomada repentinamente pelo Sr. Cacique Ubirajara. Ele a levou mediunizada até a Tenda de Oxalá, situada na Rua Baurú, em Cascadura, próximo ao local em que estava exercendo seu ofício, e foi ali, por um pouco mais de uma década, que Madrinha Elzira inicia sua missão mediúnica no culto de Umbanda.                

Os trabalhos espirituais da Tenda eram dirigidos pelo Caboclo Folha da médium Sra. Maria das Neves, e a instituição era presidida pelo Sr. Antônio Benício Barbosa, marido da Sra. Maria das Neves.

A Sra. Maria das Neves pertencia à raiz de Umbanda do conhecido médium Sr. Orlandino do “Cobra Coral”, do Centro Espírita São Jerônimo, tradicional casa de culto no Rio de Janeiro, em Éden, São João de Meriti, RJ. Nas décadas de 1930 e 1940, Orlandino do Cobra Coral era o Pai de Santo mais famoso do Rio de Janeiro, sendo "aparelho" do Sr. Cobra Coral, Pai Domingos e Exú Tiriri.

Passado alguns anos, com o desencarne da dirigente, um desafio aguardava Madrinha Elzira e o Sr. Cacique Ubirajara.

Após o trânsito da direção espiritual da casa por médiuns mais antigos, o Sr. Antônio acabou por indicar o Sr. Cacique Ubirajara para assumir a direção dos trabalhos, porém, depois de certo tempo, o Sr. Cacique Ubirajara orientou sua médium a desligar-se da Tenda de Oxalá.

Mesmo afastada, Madrinha Elzira e suas entidades continuavam a prestar apoio ao Sr. Antônio, atendendo as pessoas que eram encaminhadas por ele, além de outras que a acompanharam após seu desligamento. Foram exatamente essas pessoas que incentivaram a Madrinha Elzira para que fosse encontrado um local mais adequado para dar continuidade a sua missão espiritual.

Assim, no início dos anos 60, Madrinha Elzira adquire um terreno no então bairro Santa Hermelinda, atual Campinho, e, em 1964, a Tenda Espírita Filhos de Zambi é inaugurada.

 A Umbanda praticada em nossa Instituição tem a seguinte raiz:

- Caboclo Arranca-Toco (Médium Sr. Antônio Fagundes)

- Caboclo Cobra-Coral (Médium Sr. Orlandino do Cobra Coral) – Vale à pena pesquisar sobre ele! Iniciado no Omoloko por Chica Boi de Iansã, filha de Maria Batayó (Africana) - Centro Espírita São Jerônimo,

- Caboclo Folha (Médium Sra. Maria das Neves)

- Cacique Ubirajara (Médium Sra. Elzira da Silva F. dos Santos)

Nota de Falecimento

 


“Os iniciados nos mistérios não morrem, não desaparecem. Eles vão para Itunlá, a casa do renascimento.”

             A comunidade do Terreiro Filhos de Deus consternada, porém sempre confiante na vida ininterrupta entre os planos material e imaterial, comunica o falecimento de Ìyá Zulmira de Oxalá, no último de 31/12/2023.
               A história de vida de Tia Zulmira confunde-se com a existência de nosso Terreiro, pois presenciou todo o processo de evolução da Instituição.
                Acompanhava nossa Dirigente desde a década de 1950, em seu início na Umbanda, na Tenda de Oxalá, em Cascadura.
                Foi iniciada por Ruy de Oxalá, em 1973, no Terreiro Filhos de Deus, pertencendo ao segundo barco da casa. Recebeu o título de Iyalorixá das mãos de nossa Dirigente, que tornou-se sua mãe de santo.
          Criou sua família muito próxima da comunidade, e era exemplo de fé das entidades que trabalham na seara de Umbanda do Terreiro.
               Mesmo já afastada há muito tempo das atividades regulares dos Cultos, sempre esteve presente nos momentos importantes e de comemoração tradicional do Terreiro.
                   Agora, livre das algemas da encarnação, descansará para, em momento oportuno, continuar sua marcha evolucional.
 

SUN RÊ Ô! Paz profunda!

27 de novembro de 2023

Oxalá apresenta à comunidade a Ìyá Kekerê do Terreiro Filhos de Deus


Dia 26/11/2023 foi um dia de grande júbilo para nosso terreiro! 

Completamos o cinquentenário de homenagens a Oxalá, realizando o Ritual das Águas e o Pilão.

Em um segundo momento do Ritual, Oxalá de nossa dirigente, preencheu um dos cargos da estrutura sacerdotal do terreiro, indicando para Iya Kekerê (Mãe Pequena) a egbon Iyemanjasi Angelica, fortalecendo ainda mais os alicerces de nossa quase sexagenária Instituição.

Que a agora a Ìyá Kekere Angelica possa servir de apoio aos seus mais velhos, principalmente à nossa dirigente, na parceria fraterna para honrarmos e levarmos em frente os trabalhos de nossa casa.

30 de agosto de 2023

OLUBAJÉ 2023

 No último dia 27/08/23, a comunidade do Terreiro Filhos de Deus realizou o ritual anual do Olubajé.

Devido às chuvas, extraordinariamente, o ritual foi realizado internamente.



27 de julho de 2023

Dofona Iyemanjasi Angelica - Nova Egbon do Terreiro Filhos de Deus.

    Em um dia memorável para a Comunidade do Terrreiro Filhos de Deus, Dofona Iyemanjási Angelica, iniciada por nossa querida Iyalorixá Kajaidê de Oxalá em 02 de fevereiro de 2013,  no último dia 23 de julho de 2023, completou seu ciclo iniciático de 07 anos.
    Iya Kajaidê estava muito feliz em concretizar esse momento único na vida de uma Vodunsi.
    Desejamos a Egbon Angelica, vida longa com muita saúde e que Iya Iyemanjá a inspire sempre.


 




30 de março de 2023

Novas “Egbon” do Terreiro.

 Apresentamos as mais novas Egbon (minha mais velha) de nossa comunidade religiosa.

 Regina de Oxumarê, Zélia de Airá e Simone de Oya, realizaram a renovação de seus votos sacerdotais (7 anos).



26 de dezembro de 2022

O TERREIRO FILHOS DE DEUS SE DESPEDE DO INESQUECÍVEL GERALDO PEVIDOR DOS SANTOS.

    Foi com muito pesar, porém com plena confiança na perenidade da existência além do mundo físico que no dia 24/12/2022, os integrantes do Terreiro Filhos de Deus se despediram do amigo Geraldo, marido de nossa Iyalorixá Elzira de Oxalá.

    Geraldo representa um dos pilares que sustenta nossa Instituição há quase 60 anos.

    Sua dedicação, fidelidade ao propósito da casa, respeito, fé, disponibilidade e tantos outros predicados que poderíamos facilmente aqui enumerar, faz com que sua memória nunca se apague da história de nossa casa.

    Casado há mais de 60 anos com nossa dirigente, Geraldo sempre esteve presente em todos os momentos da edificação do Terreiro, dedicando muito de sua vida para promover tudo que hoje desfrutamos em nossa casa religiosa.

    Que seja amparado por todos os nossos benfeitores espirituais nesse momento de retorno ao plano da verdade.



 

21 de setembro de 2021

"SAGRADOS DO RECÔNCAVO". INICIATIVA DO IPAC REÚNE 10 TERREIROS DE CACHOEIRA E SÃO FÉLIX.

Visitem o site www.sagradosdoreconcavo.com.br e conheça um pouco da história do Terreiro Viva Deus, fazendo, ainda, um passeio virtual pelas áreas externas e internas do Terreiro.

5 de setembro de 2021

O TERREIRO FILHOS DE DEUS SE DESPEDE DE UM AMIGO - PARTIU PARA A ESPIRITUALIDADE ODÉ TAYÓ

 

Desencarnou no último dia 04 SET 2021 o amigo do Terreiro Filhos de Deus Edson Montenegro Magalhães, conhecido no meio religioso como Odé Tayó.

Sua presença entre nós remonta do final dos anos 70, com presença assegurada em todos os eventos religiosos de nossa Instituição.

Com casa aberta em Bento Ribeiro, essa proximidade física estreitava os laços com nossa casa, situada em Campinho, e com nossa Iyalorixá Kajaidê de Oxalá.

Há alguns anos, Odé Tayó transferiu seu Ilê Axé para Engenheiro Pedreira e, no ano passado, nossa Iyalorixá realizou uma visita a seu compadre que estava convalescendo de uma cirurgia.

Que Odé Tayó encontre a paz e, em breve, possa estar reencontrando sua ancestralidade.


 


2013 - ULTIMA VISITA A NOSSA INSTITUIÇÃO


25 de março de 2021

EGBON MARGARIDA DO GANTOIS - UM VAZIO SE FAZ NO CANDOMBLÉ CARIOCA

 ”Se awo kikun, awo kirun, nse awo mawo si Itula Ile Awo!” (Os iniciados no mistério não morrem, os iniciados no mistério não desaparecem, os iniciados no mistério vão para o Itulá!)

E ela partiu! Que Oxum e Iyemanjá a recebam no Orum, por tudo que representa para o Culto aos Orixás.
Tia Margarida de Oxum ou Egbon Margarida do Gantois; uma amizade com o Terreiro FIlhos de Deus de mais de 40 anos.
Uma relação de afeto, consideração e confiança. TIa Margarida deixa uma vazio na história do Candomblé carioca.
A conheci no início da década de 90, sentada à frente dos atabaques em nossa casa, mas sua frequência é bem anterior a isso.
Certa vez ela disse: "Os Ogãs da casa de D. Elzira, cantam pouco, mais cantam certo", conforme repete sempre o Alabê Fernando Cruz Duto.
Em uma brincadeira de um Ogã antigo visitante, em uma gira de Umbanda em nossa casa, a mesma, ao ser questionada quando chegaria sua preta-velha, respondeu em tom repreendedor: "quem dera eu tivesse uma preta-velha!", numa demonstração de humildade perante àquele sagrado que ali se apresentava.
Que Tia Margarida se recupere rapidamente dos males físicos que a afligiam e, em breve, resplandecente em espírito, esteja bem entre seu ancestrais para continuar sua existência.
Muito obrigado pela oportunidade de ter estado com a Senhora por todos esses anos.
À família carnal, especialmente Tia Glorinha e seus netos e netas, segue um abraço de solidariedade de toda a comunidade Filhos de Deus, especialmente de nossa Iyalorixá Kajaidê de Oxalá.







29 de julho de 2020

Aniversário de Iniciação.

Hoje, 29 de julho, é o aniversário de iniciação das Ekedji Eliene e Kívia. Eliene completa Bodas de Prata e Kívia completa 3 anos. Apesar do lapso entre as iniciações, ambas representam tudo de melhor que esse grau sacerdotal exige de quem o detém: respeito, postura, comprometimento e dedicação. Parabéns pelo transcurso dessa importante data!


20 de maio de 2019

UM POUCO DA HISTÓRIA DE PAI ALBERTO LOBO - JINSE

Alberto Lobo ou "Jinse" foi um importante amigo de nossa Casa nos idos dos anos 70/80.
Devemos a ele a apresentação de Iya Pitiká a nossa Iyalorixá Elzira.
Encontrei esse texto que acredito ser interessante para traçar um perfil de Seu Jinse.


"JINSE! AVISE A TODOS QUE DONANA HOJE ESTÁ COM SEU "CASACA DE FERRO".
E lá descia o menino Alberto pela ladeira do terreiro para avisar que a Iyá (Aninha) acordara com ares de poucos amigos e que todos tratassem de andar na linha durante aquele dia. "Seu Casaca de Ferro" era como chamavam nesses dias a Ogum, Orixá da guerra e de irascível humor, a cuja companhia era atribuída as fases de reclamações e cobranças exigentes feita pela Iyá, em seus dias de pouca paciência.

ALBERTO JOSÉ LOBO – Pai Alberto, Jinse – Ilê Axé Opô Afonjá – Coelho da Rocha, RJ – 1978 a 1991.
“Ô ioiô, me deixa morrer vestido porque defunto nu é muito feio”!
Desse modo, Pai Alberto respondia a todos – e eram muitos – que tentavam convencê-lo a doar ou deixar de herança os lindos fios de conta que usava em dias de grandes festas no terreiro. Ele havia construído, adquirido, sido presenteado ou herdado, na sua longa vida dentro dos candomblés, belíssimos fios de conta que enfeitava, não raro, com alguma figa, berloque ou oxê de ouro.
Mas, gostava de dizer que queria ser enterrado com um fio simples de contas brancas, ficando as mais elaboradas para serem guardadas e expostas em um Museu ou algo assim. Um de seus fios de conta, dizia ele, adquiriu de um velho africano, depois de uma negociação que durou meses. Evidentemente, essas declarações, aliadas a beleza
dos fios, aguçavam a vontade de todos e aumentavam o número dos pedidos.
Segundo ele mesmo, havia nascido em Cruz das Almas, na Bahia, no ano de 1915, filho de um pai que era tropeiro e de uma mãe que ele conheceu muito pouco.
Com cerca de nove anos, perambulava pelas ruas de Salvador, dormia de favor na casa de uma aparentada distante e passava o dia ajudando na Igreja da Barroquinha, onde sempre havia algum trocado para ganhar ou, pelo menos, algo para comer junto com o sacristão e os padres.
Na Igreja, ajudando nos preparativos da procissão do Senhor Morto, em 1925, ele conheceu Dona Aninha do Ilê Axé Opô Afonjá que, vendo a condição de necessidade
daquele menino, participou como madrinha de seu batismo e o levou para morar com ela no alto de São Gonçalo do Retiro e na sua casa da cidade, no Rio Vermelho.
Logo, ele aprendeu a coisa mais importante do candomblé: guardar segredos e, com isso, sua utilidade ficou definida. Ele passou a ser usado como mensageiro em todas as vezes que a Iyá precisava mandar algum recado mais reservado a alguém. Foi nomeado como Jinse, o mensageiro. Ela o mandava ir a todos os lados e ele passou a acompanhá-la sempre que ela saía. Logo ganhou o apelido de “branco de Aninha”, pelos mercados de toda a Salvador negra daquela década de 1920.
Na segunda metade da década de 1920, depois do famoso jogo de 1927, no qual Dona Aninha recebeu uma ordem de Xangô para se afastar do terreiro e da cidade até receber chamado para retornar, ele partiu, juntamente com sua protetora, para o Rio de Janeiro. Lá ele procurou e encontrou seu único irmão consangüíneo, mais velho e
que havia se transferido para a cidade. Os pais eram já falecidos e o irmão lhe ofereceu um trabalho se ele quisesse ir morar com ele.
Pai Alberto preferiu continuar a morar na casa de sua Iyá, juntamente com Helena Moura, uma abiã e Edgar Brandão,142

um Ogã que também fora levado para o terreiro de São Gonçalo do Retiro ainda criança. Ele ajudava nas tarefas que ela ordenava e a acompanhava por toda a cidade, fosse pelas matas para “catar folhas”, fosse para alguma visita importante, uma missa na igreja ou simplesmente para ir
reuniões das Irmandades católicas das quais ela se tornara sócia, um costume que ele acabou por herdar. Ele participou do grupo que estava na fundação do Ilê do Rio de Janeiro, ocorrida antes do retorno a Salvador.
A presença de Edgar Brandão no grupo que veio de Salvador com Dona Aninha é confirmada por suas
filhas, Maria Brandão e Lia Brandão, integrantes da Comunidade do Ilê Axé Opô Afonjá, no Rio de Janeiro.
Em 1935, ele voltou a Salvador acompanhando Dona Aninha e continuou prestando serviços. Ele pegava as folhas rituais, era encarregado das compras de animais, ajudava no descarrego de oferendas nas matas, rios e praias, e eventualmente ajudava no sacrifício de animais. Além disso, continuava a ser detentor da confiança da Iyá quando esta queria manter o segredo sobre algum assunto e mandar recados às pessoas.
Nessa época, já com seus 19 para 20 anos, recebeu o cargo de Otun Asogbá, o assessor da mão direita do Asogbá, o principal posto da casa de Omulu. Juntamente com
o Asogbá Deoscorédes dos Santos, o Mestre Didi e sob o comando de sua Iyá, participou das cerimônias funerárias de muitas pessoas ligadas ao Ilê, todas falecidas enquanto Dona Aninha permanecera no Rio de Janeiro. Havia uma “lata de 20” cheia de otás. Todas esperando o descanso! Foi uma trabalheira, lembrava.
Ele se recordava que, quando menino, “antes de 27”, levava os recados acompanhados de um obi ou orogbo, que era entregue ao destinatário envolto em um pano branco, significando que era um recado de cunho espiritual e, na maioria das vezes, pessoal. Só deveriam ser discutidos pessoalmente entre a Iyá e o destinatário.
Jamais guardou lembrança de algum recado importante; depois de transmiti-los esquecia o assunto imediatamente. Mas lembrava com nitidez de alguns fatos que o
marcaram nessas andanças, como o de ter sido enviado em uma pequena viagem até Sergipe, para convocar ao terreiro um filho de santo que Xangô mandara chamar e do
qual aguardou o comparecimento por três dias.
Quando havia convites para as grandes festas do terreiro, seu trabalho de correio dobrava, pois que as pessoas mais importantes recebiam o comunicado acompanhado de um bolo, um manjar ou um acarajé.
Por vezes, ele tinha que sair sobraçando um balaio carregado e não esquecer do que pertencia a cada um. Ele ria muito ao lembrar de algumas confusões que fez com
este tipo de recado e de como algumas pessoas receberam seus convites sem a respectiva guloseima, por ele ter comido no meio do caminho. Quando estas traquinagens eram contadas, ele sempre dizia que era tudo fruto da “vontade de seus parentes”, os gêmeos míticos Ibeji, aos quais sua cabeça era devotada.
Pai Alberto voltou ao Rio de Janeiro logo que Dona Aninha faleceu em janeiro de 1938. Em maio daquele ano, ele veio procurar seu irmão biológico, com quem tinha
feito contato na viagem anterior e que tinha lhe prometido um trabalho, se ele quisesse voltar. O irmão manteve a promessa e arranjou um emprego para ele junto a oficina de
um ourives, na Rua Camerino, onde ele trabalhou por uns cinco anos e se apaixonou pela beleza do ouro.
Logo depois, através de um político que Dona Aninha ajudara anteriormente, ele conseguiu uma colocação no Ministério do Trabalho. Lá, ele exerceu a função de
identificação digital das pessoas que tiravam a Carteira de Trabalho, até a sua aposentadoria, em 1985. No Ilê Axé Opô Afonjá do Rio de Janeiro, seus inúmeros afilhados e aprendizes brincavam dizendo que ele já tinha “fichado” quase toda a população da cidade.
Juntando sua paciência com uma enorme capacidade de entender as necessidades alheias, ele acostumou-se a visitar semanalmente algumas pessoas, entre irmãos do terreiro e das irmandades católicas e prestar a eles serviços espirituais como rezas, limpezas espirituais com ervas e a recomendar banhos de ervas a todos. Não admitia que alguém não fosse batizado na igreja e cobrava dos pais sempre que encontrava uma situação de, como ele chamava, “menino pagão”.

Com essa mania, espalhou uma rede invejável de afilhados pelo Rio de Janeiro. No terreiro, dizia-se brincando, que ele andou “fazendo o santo” até dos padres de Santo Elesbão e Santa Ifigênia e também de Santa Luzia, Irmandades nas quais era irmão atuante.
Organizou, ainda na década de 1960, uma missa mensal para homenagear Nossa Senhora das Candeias, a que ele chamava de Oxun, que atraía centenas de fieis do candomblé e da igreja católica. As pessoas costumavam fazer promessas à Santa, para serem pagas com comparecimento continuado à missa. As missas ainda hoje são realizadas em toda primeira quarta-feira de cada mês, na Igreja de Santo Elesbão e Santa Ifigênia, na Rua da Alfândega, no centro do Rio de Janeiro.
Pelo menos uma vez por quinzena, chamava alguns escolhidos para acompanhá-lo na coleta de folhas rituais para alguma atividade do terreiro. Eram longas
caminhadas que podiam durar todo o dia e nestas ocasiões, tal como tinha feito sua Iyá com ele, transmitia os conhecimentos dos costumes e das aventuras mitológicas de cada um dos Orixás. A cada folha pesquisada e colhida, fazia com que ficasse marcado na memória o local e o motivo do recolhimento, através da narração de uma história
fantástica ou de um caso mais corriqueiro que lembrasse.
Em cada dia 8 de dezembro, ele vestia sua roupa mais elegante, terno e gravata,
ia até o serviço de cofres de aluguel da seguradora Sul-América, na Rua do Ouvidor e retirava um prendedor de gravatas e um ou dois dos anéis de ouro que colecionou ao
longo da vida – costumava dizer que tinha dez, um para cada dedo - e desse modo paramentado, partia para assistir pelo menos a três missas em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, que ele também tratava como Oxun.

Pai Alberto era uma pessoa de grande alegria, mas o que mais impressionava a todos era sua humildade e como o seu modo de ser se impunha naturalmente, sem nunca
ser necessário que abandonasse o sorriso ou a calma.
Seus ensinamentos eram sempre transmitidos como se fossem pedidos educados: Ô ioiô, por favor, quando for colocar alguma oferenda, verifique se passa alguém por perto. Às vezes, isso indica a presença de algum dos nossos parentes.
Mesmo quando a observação deveria ser uma ordem, ele a transformava em pedido. Se a folha for para o velho, você pode pegar com o sol alto. Mas para os outros, não, eles
podem se aborrecer e não aceitar. Só não gosto de ensinar a essa gente que quer vender a folha, Ossain não gosta. Se Ossain se aborrece, as folhas vão sumir. Está bem?
Era um professor detalhista, que gostava de enfatizar os motivos, para depois mostrar como se fazia. Seus alunos, por vezes, lembravam dos motivos de executar um
ato, sem lembrarem exatamente do ato.
Pai Alberto faleceu em 07 de agosto de 1991, de uma infecção pulmonar que havia contraído em início de junho do mesmo ano.

O POMBO DE OSSAAYIN
Por volta de 1975, Pai Alberto era o braço direito de Dona Cantulina no Ilê Opô Afonjá de Coelho da Rocha. Ele e Dona Helena Moura eram pessoas do convívio diário da velha e saudosa Iyá. Dona Helena morava em um quarto, dentro do Ilê e Dona Cantulina, em uma casa que ficava ao lado do terreiro, mas que era de sua propriedade.
Pai Alberto, quando não era necessário que ficasse no terreiro para alguma obrigação,morava num quarto do apartamento alugado por seu irmão mais velho, no bairro de
Maria da Graça, no Rio de Janeiro.
Dona Cantulina estava com 75 anos de idade nesta época, Pai Alberto, de quem todos diziam que escondia a idade, dizia sempre ter 60 e poucos anos e Dona Helena confessava seus 70 anos, sem nenhuma contestação dos mais antigos. Há mais de 35 anos,
Pai Alberto ia até Coelho da Rocha toda quarta-feira ao final da tarde, para ajudar a colocar o amalá nos pés de Xangô. Nessas visitas, ele recebia as orientações da Iyá sobre o que o terreiro precisaria para os dias seguintes e saía de lá para executar o que fosse necessário e estivesse ao seu alcance.
Sua cabeça era dedicada a Ibeji, os gêmeos míticos, consideradas as crianças do candomblé e que, geralmente, são apresentados como irrequietos e traquinas.
Pai Alberto não negava sua filiação. Sempre lhe acontecia ou, como ele dizia, seus parentes (os gêmeos) faziam acontecer, coisas inusitadas; como se alguma criança dirigisse impusesse uma vontade por cima dos eventos da vida real.
Muitas vezes, ganhava presentes sem pedir ou por apenas insinuar que algo era bonito. Quando queria alguma coisa, acabava por consegui-la. Era especialmente ligado
a Oxun e a Omulu e chegara mesmo a providenciar, para manter o brilho das festas dedicadas a eles, uma caderneta de poupança para cada um, na qual acumulava com
dedicação as poucas sobras do parco salário de funcionário que recebia.
No início do Governo Collor ficou decepcionado com a retenção dessas suas parcas economias que, de resto, nunca conseguiu recuperar.
Aos sábados, ou quando era necessário, ele convocava alguns de seus aprendizes para irem “catar folhas” para as cerimônias. Dessa forma, ensinou a algumas dezenas de adeptos, não só de sua casa de culto, mas também de outras casas da comunidade: andando com ele pelo Alto da Boa Vista, na Floresta da Tijuca, e por todos os lados onde havia andado anteriormente com Iyá Aninha.
Quando havia necessidade grande transporte, ele conseguia a ajuda necessária levando algum aprendiz às compras dos animais dos sacrifícios e para participar de
algumas de suas funções, para aprender e, segundo ele, porque “uma mão lava a outra” e poderia algum dia precisar ensinar a alguém.
Sempre conversava muito sobre as histórias do candomblé e principalmente sobre a do Ilê. E ele tinha muitas histórias que dariam um livro. Além das folhas rituais,
Ele era profundo conhecedor de mitos dos orixás, além de saber a localização de todo tipo de lojas – do que quer que fosse – e, principalmente, das igrejas, no Rio de Janeiro
ou de Salvador. Parecia ter estado sempre andando pelas cidades e parecia conhecer todo mundo.
Certo final de tarde de uma sexta-feira, subia em direção ao Ilê para um Olubajé que começaria naquela madrugada e iria até a festa da noite do sábado. Levava as folhas que tinha colhido pela manhã e, aproveitou uma carona, para passar por um aviário que ficava no caminho. Ele queria comprar um galo para oferecer em nome de um amigo que estava doente. Escolheu com cuidado e mandou embrulhar o animal, não sem antes regatear muito o preço. Como sempre, o dono da loja cedeu à vontade misteriosa dos gêmeos e fez o desconto.
Antes de sair, Pai Alberto se encantou com a beleza de um pombo que tinha as penas de um cinza meio esverdeado e finalmente lembrou de comprá-lo para oferecer a Ossaiyn, o Dono das folhas, de quem ele era auxiliar e devedor. Mas, depois de negociar o desconto que sempre acabava por obter, Pai Alberto só queria levar o pombo para dali a quinze dias e se ofereceu para pagá-lo na hora, desde que o mantivessem lá na gaiola até o final de semana determinado.
O dono da loja, já ansioso para fechá-la, querendo se livrar da obrigação do desconto já acertado, resolveu desembaraçar-se logo do negócio. Imediatamente,
inventou uma nova regra incompreensível no mercado: só poderia vender se o pombo fosse levado de uma vez. Ele não poderia guardá-lo, mesmo fosse pago com
antecedência. Pai Alberto resolveu deixar o pombo de lado e, agradecendo por tudo, foi saindo porta a fora.
Quinze dias depois, no sábado de manhã cedo, ele saiu direto para a loja na esperança de ainda achar o pombo de Ossaiyn, antes de ir para Coelho da Rocha. Ao entrar, percebeu algo estranho no ar e, depois de observar um pouco, notou que as imensas gaiolas do aviário estavam todas vazias. Era algo inusitado! Só havia uma
gaiola com ave. Na realidade, só havia o pombo esverdeado na loja. Nenhuma criação a mais. Tudo vazio!
Ele comprou sem regatear muito e o vendedor, na ausência do dono da loja, sem ser perguntado, foi logo informando. Só sobrou ele! Deu uma doença a semana
passada e matou todas as aves que havia. Um enorme prejuízo! Pai Alberto pagou,
pegou seu embrulho e saindo da loja, comentou para o acompanhante, sorrindo: Quem mandou fazer regra só para Ibeji?"


Gonçalo Santa Cruz de Souza.
Tese de Doutoramento.
A casa de Airá

30 de outubro de 2018

OXALÁ - 2018



EM UM CLIMA DE HARMONIA E FRATERNIDADE, FOI REALIZADO O RITUAL DO PILÃO 2018, HOMENAGEANDO OXALÁ.
POR MAIS UMA ANO, A COMUNIDADE SE REÚNE PARA PRESTIGIAR ESSE GRANDE ORIXÁ E PATRONO DE NOSSA INSTITUIÇÃO.
VIDA LONGA A NOSSA IYALORIXÁ, PARA QUE POSSA ESTAR CONOSCO POR MUITOS ANOS AINDA.

11 de julho de 2018

ODUN DA EKEDJI ELIENE DE OYA


Vamos iniciar o mês de julho, comemorando o Odun de confirmação da Ekedji de Aganju Eliene e que completará no próximo dia 29 de julho de 2018, 23 anos de iniciada.
Eliene é um exemplo de humildade lessé Orixá (aos pés do Orixá), dedicação e comprometimento ao seu Oye (título) e que, atualmente, precisa ser cada vez mais louvado e divulgado para que as gerações futuras não percam a essência do que realmente é ser uma Ekedji.
Sua incansável atuação frente às suas funções precisa ser aplaudida por todos nós e, especialmente louvado o exemplo de fé inabalável que demonstra por todas as vertentes da espiritualidade desenvolvidas na Instituição.
Parabéns !
Vida longa e que seu exemplo seja lembrado por todas as gerações vindouras.